quarta-feira, 30 de maio de 2007

Sade deve ser lido hoje? Rivalter Pereira.

As formulações antihumanistas e anti-cristãs do Marquês de Sade são assombrosas. Sua lógica é potencialmente convincente. Sustenta que a natureza existe em oposição a Deus, que Cristo era um farsante, que as relações de amizade baseiam-se apenas em razões de interesses, que não se deve confiar em ninguém, que a função suprema do indivíduo é exercer o seu poder sobre os demais e viver ao máximo o prazer sexual, principalmente o obtido através de práticas violentas, que nenhuma regra social deve ser obedecida e que o coito anal deve ser preterido ao vaginal, pois assim a humanidade não procriaria e se extinguiria. Sade não é grande literatura. Passou 21 anos de sua vida na prisão porque retelhava e torturava, até quase à morte, prostitutas. Escrevendo exorcizava a sua patológica energia sexual, transpondo delirantes orgias para o papel. Em alguns momentos chega a ser estimulante acompanhá-las. Em outros não, dada a extravagância da baderna sexual. Alguns de seus personagens pensam alto e com agudeza de raciocínio. O problema é que Sade é prolixo e pretensioso, perdendo-se em longas digressões, nem sempre geniais. Mas, tem tutano. Foi um dos primeiros a antever a decadência da sociedade contemporânea, a falência de instituições, de relações pessoais, a diagnosticar o egoísmo e a hipocrisia como sendo governadoras de nosso espírito e a defender que há um cerne animal, irracional e predatório, irremovível da natureza humana. A história não o desmente. Sade é um anormal, completo. Ainda bem. Pensadores moderados nem sempre permitem que o conhecimento avance. São desprovidos da ousadia e fantasias necessárias, temendo o confrontamento com a sociedade, com os conceitos vigentes. O Marquês francês foi uma figura extremamente liberada em pensamento e comportamento, e argumentava que este era o único caminho viável para a felicidade. Não deixa de ter a sua razão. Mas liberdade demais pode ser prejudicial, abusivo, e acabar por opor-se à liberdade do outro. O ideal, me parece, é ter o máximo de liberdade com o mínimo exigido de contenção. O lema do anarquismo é que leis existem para ser descumpridas. Sem lei nenhuma o mundo inteiro converte-se em terra de ninguém e se autodestrói. O que era o projeto de Sade. Sade não é para ser seguido, é para ser lido e compreendido. No seu Filosofia na Alcova ou Escola de Libertinagem, Dolmancé, um dos personagens centrais, pergunta: Numa palavra, sobre todas as coisas, parto sempre do mesmo princípio: a natureza fosse de encontro aos prazeres sodomitas, os gozos incestuosos, as poluções, etc, permitiria que encontrássemos nelas tanto prazer? Sade priorizou o mal, o horror, a sujeira, a decadência como temas dos seus textos. Pode ser mais benéfico do que se imagina lê-los. Claro, há os que saiam matando por aí, ao entrar em contato com seus escritos, como os “Assassinos do Pântano”, que torturaram e mataram crianças na Inglaterra. Mas, em geral vejo um efeito apaziguador no consumo de material violento. Basta lembrarmos da maneira como o dramaturgo pernambucano Nelson Rodrigues justificava o seu teatro: A ficção, para ser purificadora, precisa ser atroz. O personagem é vil, para que nós não o sejamos. Ele realiza a miséria inconfessa de cada um de nós. Para salvar a platéia, é preciso encher o palco de assassinos, de adúlteras, de insanos e em suma de uma rajada de monstros.

Rivalter pereira.

4 comentários:

NAIDE disse...

O QUE REPRESENTA SADE? ACHO QUE A LOUCURA IDEOLÓGICA, E REPRESENTA MUITO BEM.

NAIDE disse...

O QUE REPRESENTA SADE? ACHO QUE A LOUCURA IDEOLÓGICA, E REPRESEHTA MUITO BEM.

NAIDE disse...

O QUE REPRESENTA SADE? ACHO QUE A LOUCURA IDEOLÓGICA, E REPRESEHTA MUITO BEM.

NAIDE disse...

O QUE REPRESENTA SADE? ACHO QUE A LOUCURA IDEOLÓGICA, E REPRESEHTA MUITO BEM.